A Assembleia da República aprovou hoje uma alteração à lei do financiamento dos partidos e das campanhas eleitorais. Até aqui nada de novo. A novidade é que o diploma foi aprovado com os votos favoráveis de TODOS os partidos com assento parlamentar, o PS, o PSD, o CDS, o PCP, o BE e os Verdes (embora estes não sejam bem um partido, mas enfim...).
Isto acontece numa semana em que toda a classe política portuguesa se incomodou com a possibilidade remota dum "bloco central" saído das próximas eleições legislativas juntar numa solução de governo o PS e o PSD. Seria contra a democracia disseram alguns políticos mais à direita ou mais à esquerda.
Seria contra a democracia que os dois principais e mais votados partidos portugueses se entendessem e unissem vontades para dar estabilidade política ao país, como de resto muitos portugueses desejam, para melhor enfrentar a crise actual.
Isso seria contra a democracia, mas este "bloco global" de todos os partidos para aligeirar as regras de financiamento privado dos partidos já lhes soa bem aos ouvidos e parece natural e democrática. O bolo é repartido por todos.
Algo me faz desconfiar desta unanimidade. Nunca vi estes partidos políticos unidos em torno de qualquer política pública, seja na economia, na educação, na saúde, no ordenamento do território, no ambiente... em nada.
Nunca os vi assim unidos em torno dos interesses maiores de Portugal. Mas parece ter sido fácil uni-los em torno dos seus interesses e do seu próprio financiamento.
Percebe-se porquê, a nova lei permitirá que o limite para donativos privados suba de 21.000 para 1.250.000 €, isto é, regressa em força o velho saco azul do financiamento partidário.
Outro aspecto curioso é que a antiga lei, quando fixou um limite baixo para o financiamento privado elevou consideravelmente o financiamento público, como medida de compensação mas também de maior transparência. A alteração hoje aprovada aumenta em 55 vezes o limite do financiamento privado sem reduzir o financiamento público.
Com três eleições à porta este é um péssimo sinal que os partidos dão ao país. Diga-se em abono da verdade que só o deputado António José Seguro (PS) votou contra a proposta.
Os partidos unidos e financiados jamais serão vencidos!
1 Comment:
Tudo neste processo me parece escandaloso.
Desde logo o dinheiro que dos nossos bolsos sai para campanhas de valor duvidoso.
E desde quando é anti democrático juntar partidos, desde que esse gesto se reflita num bem para o país e para todos?
Direi mesmo que deveria ser esse o caminho.
Não tenho qualquer pejo em ver constituído um governo de coligação (chamem-lhe o que quiserem) desde que funcione bem.
Mas os portugueses que dominam a democracia não querem. Não lhes dá jeito.
Vá lá saber-se porquê...
Ou sabe-se?
Mas venha de lá o dinheiro que pelo menos nisso estamos juntos.
Isto é mesmo para rir...
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