Chimpanzés dão comida por sexo a dobrar
por HUGO COELHO, no Diário de Notícias
Os chimpanzés selvagens que oferecem carne a uma fêmea são, por regra, duas vezes mais bem sucedidos que a concorrência, concluiu um estudo ontem publicado no jornal PloS ONE, liderado pela cientista Cristina Gomes, venezuelana, filha de um goês que viveu no império português.
"Ao oferecerem a carne que caçam, os machos aumentam o número de vezes que acasalam enquanto as fêmeas aumentam o seu consumo de calorias," explicou a cientista.
"O que é fantástico é que quando um macho troca comida com uma fêmea em particular, ele duplica o número de vezes que acasala com ela, o que por si aumenta a probabilidade de a fecundar", acrescentou.
A carne, rica em proteínas, é decisiva na alimentação destes primatas africanos. Mas as chimpanzés têm muita dificuldade em arranjar comida por si. Caçar para elas, só em último recurso porque põe em causa a sua segurança.
A ideia de trocar carne por sexo era uma velha teoria da ciência para explicar porque os chimpanzés partilhavam a comida com a sua cara metade. Mas a hipótese nunca passou de isso mesmo, porque até agora os cientistas limitavam-se a analisar as trocas imediatas - quando um macho dava comida e acasalava de seguida.
Esta nova investigação, na floresta Tai, na Costa do Marfim, foi mais além e descobriu que aqueles primatas acautelam o seu futuro. Os cientistas acompanharam chimpanzés que não estavam em época de cio. Mesmo nestes casos, quando percebiam que só podiam copular dias depois, ou até meses depois, os machos ofereceram comida.
Quer isto dizer que aqueles primatas pensam por antecipação? "Isso tem que ver com o processo cognitivo, que é muito complexo", respondeu a cientista ao DN.
"Nós provámos que eles agem por antecipação. Mas pode ser por instinto. Podem oferecer comida sem saber o que estão realmente a fazer", explicou.
A cientista do instituto Max Planck na Alemanha, que passou quase 22 meses a estudar os chimpanzés na costa ocidental de África e cerca de um ano na selva, acredita que a sua investigação pode contribuir para o estudo do comportamento dos humanos.
Aplicando directamente as conclusões aos humanos, dir-se-ia que as mulheres preferem homens com mais recursos. Nas sociedades contemporâneas, isto significaria que "elas preferem os ricos". Cristina Gomes acha que esta é uma extrapolação precipitada sem suporte científico. Mas lembra o que alguns antropólogos notaram nas sociedades recolectoras: "Os homens mais desejados são normalmente os melhores caçadores e aqueles com mais recursos."
O cientista Michael Gurven da Universidade da Califórnia em Santa Barbara, que estudou algumas comunidades recolectoras na América do Sul, admitiu à BBC que a troca de alimentos por sexo é um pretexto de "ligação entre humanos, a longo prazo".
1 Comment:
A longo prazo?
Já percebi da existência de muitos seres humanos que trocam (ou tentam trocar) bens por sexo.
Carne? Porque não?
É que a carne chama a carne.
Ou não?
Chamem-lhes macacos...
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