domingo, 5 de abril de 2009

Quem se mete comigo leva!!! (1)

O primeiro ministro José Sócrates processou o jornalista João Miguel Tavares, por causa duma crónica publicada na semana passada no Diário de Notícias sob o título "José Sócrates, o Cristo da política portuguesa". Se não fosse perigoso dava vontade de rir. 
José Sócrates bem gostaria de interromper a democracia por 6 meses... e calar a imprensa livre. Como ainda não tem esse poder, vai de tentar intimidar com processos contra os jornalistas. É o regresso do PS musculado e pugilista de outros tempos.
Para quem não leu aqui fica a perigosa crónica de João Miguel Tavares, que também é "ministro" do Governo Sombra, na TSF, às 6ª feiras pelas 19 horas, conjuntamente com Ricardo Araújo Pereira e Pedro Mexia.

JOSÉ SÓCRATES, O CRISTO DA POLÍTICA PORTUGUESA


Ver José Sócrates apelar à moral na política é tão convincente quanto a defesa da monogamia por parte de Cicciolina. A intervenção do secretário-geral do PS na abertura do congresso do passado fim-de-semana, onde se auto-investiu de grande paladino da "decência na nossa vida democrática", ultrapassa todos os limites da cara de pau. A sua licenciatura manhosa, os projectos duvidosos de engenharia na Guarda, o caso Freeport, o apartamento de luxo comprado a metade do preço e o também cada vez mais estranho caso Cova da Beira não fazem necessariamente do primeiro-ministro um homem culpado aos olhos da justiça. Mas convidam a um mínimo de decoro e recato em matérias de moral.


José Sócrates, no entanto, preferiu a fuga para a frente, lançando-se numa diatribe contra directores de jornais e televisões, com o argumento de que "quem escolhe é o povo porque em democracia o povo é quem mais ordena".


Detenhamo- -nos um pouco na maravilha deste raciocínio: reparem como nele os planos do exercício do poder e do escrutínio desse exercício são intencionalmente confundidos pelo primeiro-ministro, como se a eleição de um governante servisse para aferir inocências e o voto fornecesse uma inabalável imunidade contra todas as suspeitas. É a tese Fátima Felgueiras e Valentim Loureiro - se o povo vota em mim, que autoridade tem a justiça e a comunicação social para andarem para aí a apontar o dedo? Sócrates escolheu bem os seus amigos.


Partindo invariavelmente da premissa de que todas as notícias negativas que são escritas sobre a sua excelentíssima pessoa não passam de uma campanha negra - feitas as contas, já vamos em cinco: licenciatura, projectos, Freeport, apartamento e Cova da Beira -, José Sócrates foi mais longe: "Não podemos consentir que a democracia se torne o terreno propício para as campanhas negras." Reparem bem: não podemos "consentir". O que pretende então ele fazer para corrigir esse terrível defeito da nossa democracia? Pôr a justiça sob a sua nobre protecção? Acomodar o procurador-geral da República nos aposentos de São Bento? Devolver Pedro Silva Pereira à redacção da TVI?


À medida que se sente mais e mais acossado, José Sócrates está a ultrapassar todos os limites. Numa coisa estamos de acordo: ele tem vergonha da democracia portuguesa por ser "terreno propício para as campanhas negras"; eu tenho vergonha da democracia portuguesa por ter à frente dos seus destinos um homem sem o menor respeito por aquilo que são os pilares essenciais de um regime democrático. Como político e como primeiro ministro, não faltarão qualidades a José Sócrates. Como democrata, percebe-se agora porque gosta tanto de Hugo Chávez.


João Miguel Tavares

Jornalista - jmtavares@dn.pt

1 Comment:

Anónimo said...

O artigo de João Miguel Tavares tem tudo para nos mostrar como funcionam as coisas.
Se um artigo deste género fosse elaborado e publicado contra um adversário de Sócrates, o nosso primeiro batia palmas e punha-se em bicos de pés defendendo a qualidade do jornalismo em Portugal.
Assim ... vá de processar o homem.
Fica mal na fotografia o gesto antidemocrático e com laivos de raiva de José Sócrates.
O costume.