sábado, 11 de abril de 2009

A mania das grandezas...

Na passada semana o jornal "Expresso" publicava um interessante artigo com o título "Nove auto-estradas não são necessárias". Partindo dos parâmetros internacionais e do Plano Rodoviário Nacional 2000 sabemos que a construção duma auto-estrada só se justifica, do ponto de vista económico, para uma utilização diária mínima de 10 a 12 mil carros por dia.

Segundo os dados recolhidos junto da Brisa, APCAP e EP, existem em Portugal nove auto-estradas que estão muito longe de atingir a utilização diária mínima recomendada, algumas com apenas cerca de 5 a 6 mil carros por dia. E estão espalhadas por todo o país, no Norte (A7, A11 e A22), no Centro (A14 e A17) e no Sul (A6, A10, A13 e A 15).

Por exemplo, na A17 que liga a Figueira da Foz a Aveiro, circulam diariamente apenas 4.528 carros e na A13, na Margem Sul do Tejo circulam apenas 5.109 carros. É neste cenário que o Governo tem vindo e vai continuar a lançar novas concessões de auto-estradas, quando é evidente que a rede actual já está sobre-dimensionada para as reais necessidades do país.

E este é um assunto que diz respeito a todos os portugueses porque, agora ou no futuro, vamos ser todos nós a pagar os desvarios dos nossos governantes. Dos actuais e do passado, porque nesta matéria das obras públicas há muitas caras dos partidos do poder. E o preço que vamos pagar não é só da construção mas também da sua exploração uma vez que as concessionárias terão de ser compensadas se, como é previsível, não atingirem os níveis de exploração que tornam o investimento rentável. Isto é, lá vão os nossos impostos pagar a diferença e cobrir o risco de exploração que nestas parcerias público-privadas fica sempre do lado do Estado.

Mas há ainda um outro custo que o país paga com estas decisões. É que os recursos desperdiçados, sejam financeiros ou o território consumido, não são investidos onde verdadeiramente fazem falta para o nosso desenvolvimento.

É por isso que somos pobres. Não porque os portugueses estejam condenados à pobreza por alguma razão esotérica, mas porque com a mania das grandezas gastamos mal os recursos que temos e ainda os que não temos e pedimos a crédito. E há sempre uns poucos a ganhar com a pobreza de muitos...

E não tinha de ser assim. Diz o Eurostat que Portugal é dos países da Europa com maior densidade de auto-estradas, considerando a população e a densidade geográfica, sendo a Região de Lisboa e Vale do Tejo a "campeã" ao nível europeu. É o resultado do investimento na política do betão, que não tirou Portugal da cauda da Europa.

Outros países mais ricos do que nós não se dão aos nossos luxos e não desperdiçam recursos desta forma. Por isso são mais ricos e nós mais pobres. Aqui na vizinha Espanha existe a autopista, auto-estrada com elevados níveis de utilização, e a autovia, auto-estrada em zonas com menor utilização e com especificações técnicas inferiores, mas pouco visíveis aos utentes. Duma solução para a outra vai uma economia de 40%. É assim que se poupam recursos dos contribuintes.

Ao artigo publicado pelo "Expresso" o Governo não fez qualquer desmentido. Apenas o Ministro Mário Lino, no programa "Prós e Contras" da passada 2ª feira, afirmou que é natural que uma auto-estrada não atinja logo a utilização pretendida uma vez que são projectadas para 20 ou 30 anos. Mário Lino tem uma tendência irreprimível para pensar que somos todos parvos, mas acabou por reconhecer que as auto-estradas de que se fala não eram necessárias naquelas condições técnicas quando foram construídas. 

Mas o pior é que vai persistir no disparate: agora é a construção duma 3ª auto-estrada Lisboa-Porto quando nas actuais circulam apenas 50 dos 150 mil carros por dia da sua capacidade. E se não bastasse, ainda quer construir uma linha de TGV para ligar Lisboa ao Porto em menos de 2 horas, retirando muita utilização actual das auto-estradas.

Está tudo louco ou somos nós que somos burros?

1 Comment:

Anónimo said...

Somos um País pequenino mas com grandes potencialidades, desde que bem dirigido.

Tem o passado/presente demonstrado que o facto de "não passarmos da cepa torta" se deve a aberrações governativas que uma vez tomadas se tornam num dado adquirido sem possibilidade de retorno.

O caso das auto-estradas indicadas faz-me lembrar a construção do Estádio Algarve, um elefante mais ou menos branco feito para o euro 2004 para ficar "às moscas".

Somos pequeninos e temos que suportar dirigentes anões...