quinta-feira, 30 de abril de 2009

Unidos e financiados venceremos!

A Assembleia da República aprovou hoje uma alteração à lei do financiamento dos partidos e das campanhas eleitorais. Até aqui nada de novo. A novidade é que o diploma foi aprovado com os votos favoráveis de TODOS os partidos com assento parlamentar, o PS, o PSD, o CDS, o PCP, o BE e os Verdes (embora estes não sejam bem um partido, mas enfim...).

Isto acontece numa semana em que toda a classe política portuguesa se incomodou com a possibilidade remota dum "bloco central" saído das próximas eleições legislativas juntar numa solução de governo o PS e o PSD. Seria contra a democracia disseram alguns políticos mais à direita ou mais à esquerda. 

Seria contra a democracia que os dois principais e mais votados partidos portugueses se entendessem e unissem vontades para dar estabilidade política ao país, como de resto muitos portugueses desejam, para melhor enfrentar a crise actual.

Isso seria contra a democracia, mas este "bloco global" de todos os partidos para aligeirar as regras de financiamento privado dos partidos já lhes soa bem aos ouvidos e parece natural e democrática. O bolo é repartido por todos.

Algo me faz desconfiar desta unanimidade. Nunca vi estes partidos políticos unidos em torno de qualquer política pública, seja na economia, na educação, na saúde, no ordenamento do território, no ambiente... em nada. 
Nunca os vi assim unidos em torno dos interesses maiores de Portugal. Mas parece ter sido fácil uni-los em torno dos seus interesses e do seu próprio financiamento.

Percebe-se porquê, a nova lei permitirá que o limite para donativos privados suba de 21.000 para 1.250.000 €, isto é, regressa em força o velho saco azul do financiamento partidário.

Outro aspecto curioso é que a antiga lei, quando fixou um limite baixo para o financiamento privado elevou consideravelmente o financiamento público, como medida de compensação mas também de maior transparência. A alteração hoje aprovada aumenta em 55 vezes o limite do financiamento privado sem reduzir o financiamento público.

Com três eleições à porta este é um péssimo sinal que os partidos dão ao país. Diga-se em abono da verdade que só o deputado António José Seguro (PS) votou contra a proposta. 

Os partidos unidos e financiados jamais serão vencidos!

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Prémio Pessoa 2008: Arquitectura é "uma coisa maravilhosa e universal".


"O facto de o prémio ser atribuído a um arquitecto cria uma maior atenção pública à sua obra e, naturalmente, à arquitectura", declarou João Luís Carrilho da Graça na entrega do Prémio Pessoa 2008, no grande auditório da Culturgest, no edifício-sede da Caixa Geral de Depósitos que patrocina o galardão criado pelo jornal Expresso em 1987.


João Luís Carrilho da Graça é natural de Portalegre, onde nasceu há 56 anos. Entre as suas obras mais reconhecidas estão o Pavilhão do Conhecimento dos Mares, na Expo, a Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa e o Teatro e Auditório de Poitiers, para além do Centro da Segurança Social de Portalegre.

Para Carrilho da Graça a arquitectura é "uma coisa maravilhosa e universal", "um trabalho intelectual e afectivo, de criação de processos de transformação positiva, de construção de desejos".

Para quem gosta de arquitectura deixo aqui algumas imagens de diversas obras de Carrilho da Graça. Unicamente pelo prazer da boa arquitectura.



Terminar o quê?

Paulo Pedroso, o candidato socialista à Câmara de Almada, quer terminar a obra que ninguém começou. Interrogo-me: então mas se ninguém começou como é que outro alguém pode agora terminar? Há aqui qualquer coisa que me escapa ou então a frase não faz qualquer sentido. 

Começa bem o Dr. Paulo Pedroso...

Ou será apenas uma questão de marketing, uma vez que a frase, mesmo sem sentido, soa bem ao ouvido? Se assim for melhor seria que a campanha autárquica do PS tivesse um pouco mais de conteúdo (ter duas ou três ideias para Almada não seria mau...) e menos forma.

Como é difícil comunicar...


Precisa-se de matéria prima...

No "Prós e Contras" desta semana o debate fazia-se em torno dum pergunta absolutamente idiota: O 25 de Abril valeu a pena? Apesar disso os convidados - Mário Soares, Leonor Beleza, António Sampaio da Nóvoa e Anacoreta Correia - acabaram por fazer um debate interessante sobre o Portugal democrático. Bem pior foi a participação de diversos representantes de estudantes do ensino superior, na maioria dos casos sem conseguir falar português correcto, deixando-me arrepiado com os homens e mulheres que nos irão governar no futuro. Mas ficou-me no ouvido a referência de Anacoreta Correia a um texto publicado por Eduardo Prado Coelho, no Público, pouco antes da sua morte. O texto chama-se "Precisa-se de matéria prima para fazer um país" e é completamente actual. Aqui fica, para relembrar Eduardo Prado Coelho e perturbar as nossas consciências.



Precisa-se de matéria prima para construir um País


"A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres.
Agora dizemos que Sócrates não serve.
E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada.
Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates.
O problema está em nós. Nós como povo.
Nós como matéria prima de um país.
Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro.
Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais.
Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos ....e para eles mesmos.
Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país:
- Onde a falta de pontualidade é um hábito;
- Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.
- Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e, depois, reclamam do governo por não limpar os esgotos.
- Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros.
- Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é 'muito chato ter que ler') e não há consciência nem memória política, histórica nem económica.
- Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar alguns.
Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser 'compradas', sem se fazer qualquer exame.
- Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar.
- Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão.
- Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.
Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.
Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.
Não. Não. Não. Já basta.
Como 'matéria prima' de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa.
Esses defeitos, essa 'CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA' congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não noutra parte...
Fico triste.
Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos.
E não poderá fazer nada...
Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.
Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, nem serve Sócrates e nem servirá o que vier.
Qual é a alternativa?
Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror?
Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa 'outra coisa' não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente abusados!
É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...
Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias.
Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer.
Está muito claro... Somos nós que temos que mudar.
Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos:
Desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e, francamente, somos tolerantes com o fracasso.
É a indústria da desculpa e da estupidez.
Agora, depois desta mensagem, francamente, decidi procurar o responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido.
Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO DE QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO.
AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO NOUTRO LADO.
E você, o que pensa?.... MEDITE!"

 

 

Eduardo Prado Coelho - in Público

Festival Cantar Abril

segunda-feira, 27 de abril de 2009

World Press Cartoon Sintra 2009


A não perder, no Sintra Museu de Arte Moderna - Colecção Berardo, até ao dia 14 de Junho de 2009.


Na caneta, no lápis ou no écran dum computador o cartoon é uma arma contra a monotonia e o acomodamento, como mostra o  trabalho vencedor do 1º Prémio na categoria Cartoon Editorial, do mexicano Rogélio Naranjo, intitulado "In the same ship".

Os restantes trabalhos só mesmo visitando a exposição, aproveitando também para a outra exposição dedicada ao trabalho artístico de Rafael Bordalo Pinheiro. 

World Press Cartoon Sintra 2009, a arte de Rafael Bordalo Pinheiro e a Vila Velha Património da Humanidade. Três motivos para uma visita, com tempo, à minha terra, qualquer deles a não perder.

O carimbo de Cardozo

Não resisti e aproveito para divulgar o blogue de Henrique Monteiro -  http://henricartoon.blogs.sapo.pt - o autor deste e de outros magníficos cartoon's - que faz parte das minhas escolhas. Ora vão lá fazer uma visita que não se vão arrepender.

Os tios e as tias de Caetano Veloso

Se há fonte musical de que eu goste particularmente essa fonte é o Brasil, terra de todas as músicas, universais e intemporais e de grandes cantoras. Por isso, sempre que é lançado um novo CD de algum dos autores que eu cultivo, e são muitos no Brasil, desperta a minha curiosidade e atenção, mesmo que os tempos de crise não permitam comprar tudo o que gostava. Mas a Internet é sempre um inesgotável arquivo musical...

Desta vez foi a recente publicação em Portugal do último CD de Caetano Veloso, estranhamente chamado "Zii e Zie" que quer dizer tios e tias em italiano. Trabalho na mesma linha sonora do anterior "Cê", com Caetano a construir uma nova imagem de modernidade em torno dos seus "transambas", sambas transformados no contacto com o rock ou vice-versa tanto faz, com muita electricidade mas sem me empolgar de facto.

Destaque para uma homenagem a Aveiro no tema "Menina da Ria" e o tema de combate político em "A base de Guantánamo"

Não arrebata nem desilude, mas é Caetano Veloso.

Orquestra Geração

Lembro-me de ouvir o Herman José, há uns anos na televisão, a dizer que o verdadeiro ministério da cultura em Portugal é a Fundação Calouste Gulbenkian. Vem isto a propósito duma notícia divulgada ontem pela Lusa.


Dizia a notícia que a Fundação Calouste Gulbenkian vai apoiar a criação de orquestras de jovens desfavorecidos em seis concelhos da Área Metropolitana de Lisboa (AML) no âmbito de um projecto de inclusão social designado Orquestra Geração.


A ideia foi inspirada no "El Sistema", um projecto social venezuelano composto actualmente por cerca de 250 orquestras de jovens de vários níveis etários oriundos de meios sociais desfavorecidos.


Nos quatro anos do projecto da Gulbenkian foram criadas três orquestras deste género, duas na Amadora e uma em Via Longa, onde participam 180 crianças dos 5 aos 14 anos. Agora o objectivo é criar mais 6 orquestras no Barreiro, Sesimbra, Oeiras, Loures, Sintra e mais uma na Amadora. 


"Decidimos fazer uma intervenção numa comunidade urbana com problemas de insucesso escolar e desemprego", explica Luísa Valle, responsável da Fundação Gulbenkian na área social, referindo que "o insucesso ao longo das gerações não tem que ser uma fatalidade para os mais jovens. É possível, com projectos como este, criar janelas de oportunidades". 


O projecto inclui as autarquias locais, a Escola de Música do Conservatório Nacional, e conta ainda com o apoio mecenático da Fundação EDP.


Acho que o Herman José tinha toda a razão.

Benfica vence, mas não convence...

O título de campeão nacional já lá vai. A possibilidade de ingressar na Liga Europeia directamente através da conquista do 2º lugar na Liga nacional parece também cada vez mais distante. Ao Benfica resta apenas ganhar os jogos que faltam para o final da época e mostrar bom futebol. No jogo em casa com o Marítimo acabou por fazer as duas coisas: ganhou a partida por 3-2 e até jogou bem, principalmente na 1ª parte, mas acabou a sofrer no final do jogo depois de ir para o intervalo a ganhar por 3-0.

O Benfica venceu o jogo, mas continua a não convencer.

domingo, 26 de abril de 2009

Quem se mete com o meu chefe leva! (5)

João Tiago Silveira, actual Secretário de Estado da Justiça, saltou para as páginas da imprensa nacional na semana passada, não pelo seu trabalho no sector mas pelo violento ataque que proferiu contra a Ordem dos Notários (ON). Sabe-se que um jornalista da TSF solicitou à Ordem dos Notários o acesso a todas as escrituras públicas com participação de José Sócrates, dos seus familiares e de outros cidadãos referidos no "caso Freeport", tendo a Ordem difundido o pedido pelos 400 cartórios existentes no país.

João Tiago Silveira não gostou e veio à imprensa dizer que se trata de "uma situação muito grave, que põe em causa os direitos fundamentais, a intimidade da vida privada das pessoas e a protecção dos dados pessoais de todos os portugueses".

Carla Soares, a bastonária da ON, tratou de esclarecer publicamente que se tratam de escrituras públicas, acessíveis a qualquer cidadão, sendo este serviço prestado a quem o solicita diariamente, como a Lei prevê. Diversos especialistas em direito administrativo, consultados pela imprensa nacional durante a semana, foram unânimes em confirmar a legalidade da actuação da Ordem dos Notários.

Depois do jornalista da TSF já outros jornalistas fizeram o mesmo pedido de acesso às escrituras públicas de José Sócrates.

Mas para o jovem Secretário de Estado da Justiça, João Tiago Silveira, quem se mete com o seu chefe leva! 

Ainda vai acabar promovido.

O velho sangue estalinista...

Como não podia deixar de ser o Ministro Mário Lino discursou na segunda grande cerimónia de pompa e circunstância da concessão rodoviária do Algarve-Litoral, realizada hoje em Faro, para a assinatura do contrato. A primeira foi o ano passado, para o lançamento do concurso. 

Nunca em Portugal os concursos públicos de obras tiveram tanta festa, tantos beberetes, tantos ministros e tanta cobertura mediática. 

É claro que a proximidade das eleições nada têm a ver com tamanho foguetório...

Mas não há discurso governamental que não sirva para fazer oposição à oposição. Desta vez, o verbo do ministro virou-se contra o discurso de Paulo Rangel na cerimónia do 25 de Abril, por este ter criticado a megalomania e a oportunidade das obras públicas que deixarão uma insuportável dívida para as gerações futuras pagarem.

Discurso "salazarento" do líder parlamentar do PSD, diz Mário Lino, incomodado com tamanha liberdade no Parlamento. Às críticas, Mário Lino prefere responder com o insulto.

Nas veias de Mário Lino ainda corre fulgurante e quente o velho sangue estalinista.

Marques Mendes não existe, diz Isaltino...

A Câmara de Oeiras, presidida por Isaltino de Morais, homenageou diversos ex-autarcas do concelho, numa cerimória realizada no 25 de Abril. Por proposta dos vereadores sociais democratas, um dos homenageados foi Luís Marques Mendes, antigo Presidente da Assembleia Municipal de Oeiras entre 1997 e 2004. 

Só que o antigo líder do PSD recusou participar na cerimónia de entrega do galardão por ser presidida por Isaltino de Morais que, como se sabe, foi afastado por Marques Mendes da candidatura laranja à Câmara de Oeiras em 2005, por nessa altura já ser arguido no processo que agora está em julgamento no Tribunal de Sintra, acusado de crimes económicos.

Irritado com a recusa de Marques Mendes, o autarca de Oeiras diria à imprensa que "cada um faz o seu juízo de valor, para mim o Dr. Marques Mendes não existe, não me lembro dele há muitos anos". 

A memória de Isaltino de Morais já teve dias melhores.

Ao recusar participar na cerimónia, Luís Marques Mendes, que no ano passado publicou um livro intitulado "MUDAR DE VIDA - Propostas para um país mais Ético, Justo e Competitivo", reafirma que na política e na vida pública não pode valer tudo.

Não há Abril sem José Afonso

Comemorar o 25 de Abril é também relembrar José Afonso. Aqui fica a canção "A morte saiu à rua", que José Afonso dedicou a José Dias Coelho, pintor e militante comunista, assassinado pela PIDE, nos anos sessenta.

sábado, 25 de abril de 2009

"Inquiteção", de José Mário Branco

Acabo de ver José Mário Branco no programa da RTP comemorativo dos 35 anos da Revolução de Abril. José Mário Branco continua em grande forma e ele foi uma da vozes da música portuguesa que regressou a Portugal com o fim da ditadura. Tenho por José Mário Branco um gosto muito particular e considero-o, depois de José Afonso, o maior autor da música popular portuguesa. 
Aqui fica um tema incluído no fabuloso álbum "Ser Solidário", que tive o prazer de ver ao vivo no velho Teatro Aberto, ali à Praça de Espanha.

José Fanha, poeta de Abril

Já não sei bem há quanto tempo mas a cena passou-se em S. Pedro de Sintra. Ao mesmo tempo que eu me aproximava duma caixa Multibanco um homem baixo, corpulento e de bigode imponente parecia apressado para utilizar a máquina ao mesmo tempo que eu me preparava para faz o mesmo. Num gesto de mão dei-lhe a prioridade e ele, depois de usar a máquina, agradeceu-me com um "obrigado". 
"Obrigado eu, pela poesia que me oferece todas as manhãs", respondi-lhe referindo-me a um pequeno momento radiofónico dedicado à poesia que ele fazia numa rádio local, que eu ouvia pela manhã.
Com olhar de espanto, José Fanha voltou a agradecer-me e cada um foi à sua vida. Muitos portugueses conheceram-no pela sua brilhante participação no concurso da "Cornélia" na RTP, mas eu conhecia José Fanha da minha juventude, dos meus tempos de militância na esquerda radical e fazia já muitos anos que não o via. José Fanha é um dos poetas de Abril.
Longa vida aos poetas e à poesia.



Eu Sou Português Aqui

Eu sou português
aqui
em terra e fome talhado
feito de barro e carvão
rasgado pelo vento norte
amante certo da morte
no silêncio da agressão.

Eu sou português
aqui
mas nascido deste lado
do lado de cá da vida
do lado do sofrimento
da miséria repetida
do pé descalço
do vento.

Nasci
deste lado da cidade
nesta margem
no meio da tempestade
durante o reino do medo.
Sempre a apostar na viagem
quando os frutos amargavam
e o luar sabia a azedo.

Eu sou português
aqui
no teatro mentiroso
mas afinal verdadeiro
na finta fácil
no gozo
no sorriso doloroso
no gingar dum marinheiro.

Nasci
deste lado da ternura
do coração esfarrapado
eu sou filho da aventura
da anedota
do acaso
campeão do improviso,
trago as mão sujas do sangue
que empapa a terra que piso.

Eu sou português
aqui
na brilhantina em que embrulho,
do alto da minha esquina
a conversa e a borrasca
eu sou filho do sarilho
do gesto desmesurado
nos cordéis do desenrasca.

Nasci
aqui
no mês de Abril
quando esqueci toda a saudade
e comecei a inventar
em cada gesto
a liberdade.

Nasci
aqui
ao pé do mar
duma garganta magoada no cantar.
Eu sou a festa
inacabada
quase ausente
eu sou a briga
a luta antiga
renovada
ainda urgente.

Eu sou português
aqui
o português sem mestre
mas com jeito.
Eu sou português
aqui
e trago o mês de Abril
a voar
dentro do peito. 



José Fanha, in "Eu sou português aqui"


Cravos

Com um cravo na boca
e uma rosa na mão,
- Chiça que me piquei!!

José Fanha, in "Olho por olho", 1977

Censura regressa à Casa dos Budas Ditosos


Novamente o Grupo Auchan, detentor das marcas Jumbo e Pão de Açucar, considerou a obra de João Ubaldo Ribeiro Ribeiro pornográfica e retirou-se das prateleiras das lojas da cadeia. Aos censores do Auchan não passou pela cabeça que os portugueses só lêem aquilo que querem e não precisam de polícias de costumes para os defender das "influências perniciosas" da literatura de João Ubaldo Ribeiro.
O livro é a narrativa na primeira pessoa de uma mulher de terceira idade que conta de forma entusiástica as suas paixões e aventuras amorosas ao longo duma vida inteira de prazeres sem limites morais, duma linguagem nua e crua. Os bois chamados pelos nomes.

João Ubalbo Ribeiro, escritor e jornalista brasileiro nascido em 1941 na Bahia, com uma forte ligação a Portugal, foi o vencedor do Prémio Camões em 2008, é também autor do romance "Viva o Povo Brasileiro", que conta a história do Brasil desde a sua fundação. Também este romance está agora nas mãos dos censores do Auchan, em apreciação, não vá tratar-se de mais alguma obra atentatória dos nossos bons costumes privados...

Para já parece ter passado no teste a última obra do autor, o romance "Miséria e Grandeza do Amor de Benedita" que se encontra à venda nas prateleiras da cadeias Jumbo e Pão de Açucar. 

A Feira do Livro, que abre em Lisboa no próximo dia 30, é este ano dedicada ao Brasil. Estranha forma encontrou o Grupo Auchan de celebrar a amizade com o país irmão.

O primeiro comunicado do MFA

Ao romper da madrugada ficámos todos colados ao rádio. O Movimento da Forças Armadas fazia o primeiro comunicado aos portugueses.

As manchetes da Liberdade






sexta-feira, 24 de abril de 2009

Silêncio liberdade...

Dentro de alguns minutos estaremos a celebrar os 35 anos da arrancada na marcha militar sobre Lisboa, que devolveu a liberdade e esperança numa vida melhor aos portugueses.
Soube hoje pela imprensa que neste momento estão 9 jornalistas processados pelas notícias que publicaram sobre o conhecido caso Freeport e seus derivados, quase todos em processos movidos pelo Sr. Engenheiro...

Estranha forma esta de comemorar a liberdade de imprensa.

O dia inicial inteiro e limpo


“Esta é a madrugada que eu esperava

O dia inicial inteiro e limpo

Onde emergimos da noite e do silêncio

E livres habitamos a substância do tempo”

Sophia de Mello Breyner Andresen, in poema “25 de Abril”

segunda-feira, 20 de abril de 2009

A factura vem depois... diz Vital Moreira.

Vital Moreira disse bem claro hoje no "Prós e Contras" que "os grandes investimentos não custam nada nos próximos um ou dois anos...". Até parecia o velho e radical militante comunista de outros tempos, o verbo fugiu-lhe para a verdade.

Ora aí está o que muita gente vem dizendo e que Sócrates quer esconder: em tempo de campanha eleitoral os grandes investimentos não custam nada, a factura vem depois e bem pesada para ser paga por nós e pelas próximas gerações.

Mas a continuar assim, a fugir-lhe o verbo para a verdade, o candidato europeu do PS ainda vai arranjar mais problemas ao Sr. Engenheiro...

Viva o 1º de Maio!

Este ano não vou ficar em casa. Já não sei há quantos anos não participo numa manifestação. As últimas vezes, lembro-me bem, foi contra a invasão de Timor pela Indonésia e a outra contra o racismo, quando todos gritámos "Todos diferentes, todos iguais".

Na minha juventude participei em dezenas de manifestações, com o sonho de querer transformar o mundo num lugar melhor para todos vivermos. Não morreu o sonho mas sei hoje que o mundo transformasse de formas diferentes das que eu então imaginava.

Mas este ano não vou ficar em casa no próximo 1º de Maio. Não será jamais o 1º de Maio de 1974, porque a força transformadora desse dia não se repete. Mas este Governo, na forma como governa contra mim, contra nós, contra o nosso futuro, obriga-me, impele-me a não ficar em casa a ver as notícias da frente pela televisão.

Ainda não sei onde, se com o meu sindicato, o Sindicato dos Técnicos do Estado (STE) se em outra manifestação política do 1º de Maio. 

Mas sei que neste 1º de Maio não vou ficar em casa. Viva o 1º de Maio!

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Loja do Cidadão sem saias curtas e decotes


As funcionárias da Loja do Cidadão de Faro, inaugurada no início de Abril, estão proibidas de usar saias curtas, decotes, saltos altos, roupa interior escura, gangas e perfumes agressivos, segundo as instruções dadas na acção de formação para abertura da loja, promovida pela Agência de Modernização Administrativa.


“Esta acção incide sobre várias matérias e, em particular, sobre o que deve constituir um atendimento de qualidade, que ajuda ou prejudica o relacionamento com os cidadãos”, justificou Maria Pulquéria Lúcio, vogal do Conselho Directivo da agência, ao jornal "Correio da Manhã". Os “aspectos de postura pessoal foram abordados como importantes para uma imagem cuidada” das funcionárias, acrescentou.


Pulquéria Lúcio, que talvez ainda não se tenha dado conta da entrada do séc. XXI e da vida em democracia,  confirmou a proibição do uso de decotes exagerados, perfumes agressivos e gangas, mas negou a referência a saltos altos e a roupa interior escura. 


Bom, já estou como dizia a Helena Roseta numa crónica no "Público", se o Governo quer curtar na liberdade individual das funcionárias da Loja do Cidadão de Faro, porque não manda comprar para todas vestidos Armani? Sempre ficariam em maior harmonia com o trajar moderno de José Sócrates.


Quem nos garante que na próxima acção de formação Maria Pulquéria Lúcio não declara a obrigatoriedade das funcionárias públicas passarem a usar... burka e óculos escuros, não vá algum olhar mais sensual desestabilizar os utentes.


E já agora qual é o fato recomendado para os funcionários homens?

A cantiga é uma arma!

A notícia está hoje nos mais diversos meios de comunicação nacional: a música "Sem eira nem beira" que faz parte do último álbum editado pelos Xutos & Pontapés, no princípio de Abril, ameaça tornam-se num hino de combate social contra o "Sr. Engenheiro", que muitos já associam a José Sócrates.

Os músicos Comendadores garantem que essa não era a intenção da banda quando compuseram a canção, mas a verdade é depois de publicada e acolhida pelos fãs a música agora pertence a todos que a ouvem e lhe dão um sentido próprio. 

Então, em Abril a cantiga voltou a ser uma arma.

Morreu José Franco, o oleiro do Sobreiro


O oleiro popular José Franco, criador da aldeia típica do Sobreiro, em Mafra, faleceu ao início da madrugada de ontem no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, com 89 anos, devido a complicações na sequência de uma queda que levou ao seu internamento.

José Franco dedicou-se principalmente à arte-sacra, sendo por isso conhecido em todo o mundo, podendo encontrar-se obras da sua autoria inclusivamente no Vaticano. No entanto, a sua obra mais conhecida e popular será a Aldeia típica de José Franco, construção em miniatura de uma aldeia saloia do início do século XX, onde podem ser apreciadas cenas da vida da época, realizadas por bonecos mecanizados, principalmente movidos a água, bem como, lojas em miniatura que ilustram as mais diversas profissões.

Piscina Municipal da Sobreda


Inauguração da Piscina Municipal da Sobreda (Almada), no próximo dia 18 de Abril de 2009, no Parque Multiusos, em Vale Figueira, pelas 16.00 horas.

Edifício do Poder Local do Feijó


Inauguração do Edifício Sede do Poder Local da Freguesia do Feijó (Almada), no próximo dia 18 de Abril de 2009, pelas 11.00 horas.

terça-feira, 14 de abril de 2009

domingo, 12 de abril de 2009

Policarpo e Darwin fazem as pazes...

Na homilia Pascal, celebrada hoje na Sé de Lisboa, D. José Policarpo sublinhou que "tanto os darwinistas como a maneira católica de lhes responder partiram de uma leitura do texto bíblico, não querida pelo seu autor nem legitimada pela comunidade para quem foi escrito", assinalando que o mesmo erro é cometido por "muitos dos actuais movimentos chamados criacionistas".

"É um texto simbólico, num género literário hoje conhecido e estudado; é uma revelação do sentido profundo da criação e da vida e não a narração do modo como as coisas aconteceram, perspectiva própria da ciência", afirma o Cardeal Patriarca. A teoria da Evolução das Espécies "gerou, em alguns, um positivismo científico, que levou ao agnosticismo e mesmo ao ateísmo, excluindo de qualquer modo a contínua intervenção de Deus nesta longa caminhada da vida".

Para D. José Policarpo, apesar das "dificuldades que a teoria de Darwin pôs à compreensão cristã da origem da vida e do universo, a Igreja não a pode recusar liminarmente" nem pode continuar a distinguir os campos da ciência e da fé como planos que nunca se encontram.

"A Igreja não pode abdicar de um diálogo com a ciência e de uma possível convergência na busca da verdade", afirmou, referindo que não pode ser indiferente à compreensão do tempo e da história trazida pelo livro de Charles Darwin.

Finalmente... foram precisos 150 anos de ciência para a Igreja portuguesa descobrir que não somos filhos de Adão e Eva.

Tata Nano, carro ecológico ou risco para o ambiente?

O modelo Nano, da indiana Tata Motors, foi recentemente lançado na Índia, por um preço abaixo de 2.000 €, tornando-se o carro novo mais barato da história da construção automóvel mundial.

Ratan Tata, o administrador da empresa e criador do Nano, disse que teve a ideia quando via “famílias inteiras em duas rodas, com o pai a guiar com um filho ao colo e a mãe atrás com outro agarrado às costas”. Com o Nano, quase 200 milhões de indianos vão poder mudar de meio de transporte. No mundo inteiro serão biliões de pessoas a ter condições para comprar um carro.

O que parece ser a solução para um problema social, poderá ser também uma bomba para o meio ambiente. Apesar de ser mais económico e gerar menos emissões do que os carros convencionais, o que teremos não serão pessoas a trocar de carro por um mais eficiente mas milhões de pessoas que antes não tinham carro que passam a ter. Estima-se que com o Nano poderão duplicar as emissões de gases com efeito de estufa aumentando directamente o impacto do aquecimento global sobre o ambiente e o planeta.

Mas os problemas ambientais da produção do Nano começaram muito antes de ser colocado à venda. A Tata Motors precisou duma nova unidade fabril para produzir o novo modelo, na Índia, tendo iniciado a sua construção em terrenos agrícolas expropriados. Contudo, a afectação dos terrenos agrícolas à indústria automóvel motivou violentos protestos e manifestações dos agricultores locais, o que obrigou a Tata Motors a parar a construção da fábrica e mudar a sua localização para outro local.

Tivesse a Tata Motors escolhido Portugal para instalar a nova fábrica e não teria os problemas que teve na Índia. Porque, muito provavelmente, não teria o protesto dos agricultores e ainda, com toda a certeza, teria apoio governamental para comprar terrenos da Reserva Agrícola Nacional para lá construir a fábrica. O projecto seria classificado de PIN que, como se sabe, é a carta branca para passar por cima de todas as regras ambientais e do bom ordenamento do território e ainda receber apoios do Estado, que é como quem diz, dos nossos impostos.

Ontem voltei a ver BEN-HUR...

Já não sei quantas vezes a televisão portuguesa passou o Ben-Hur na Páscoa. Este ano foi a vez da televisão pública, no Canal 2, repetir o clássico épico. E não é garantido que não o volte a fazer no próximo ano.

Ben-Hur parece ter sido eleito o filme obrigatório na semana santa.

Desta vez vi o filme inteiro. Porque o Ben-Hur é para mim o símbolo maior da magia do cinema, porque foi o primeiro grande filme que vi na minha juventude, com tanto entusiasmo que lembro-me de ter pago para o ver pelo menos duas vezes. Não me recordo de ter repetido outro filme. 

Era no tempo em que ir ao cinema não era um pretexto para comer pipocas... era mesmo para ver o filme que estava em exibição. E o Ben-Hur tinha todos os ingredientes para fazer um jovem gostar do filme. Era uma grande produção do cimena americano, com um dos seus mais venerados actores (Charlton Heston), campeão de prémios e uma história que não dispensava cenários fabulosos. Quem se pode esquecer das famosas cenas da batalha naval ou da corrida de quadrigas de cavalos no circo romano.

Era para mim o fascínio da aventura, da imagem e do som projectados nas grandes telas dos cinemas da Amadora, onde cresci, já não me lembro se no velho "Piolho" ou se no moderno "Lido". Ontem voltei a ver o Ben-Hur, em casa e sentado no sofá (sem pipocas), mas pelo menos serviu para recordar a magia do cinema na minha infância.

Era uma vez uma equipa...

Foi o golpe final nas aspirações do Benfica no campeonato nacional. A Académcia veio à Luz vencer os encarnados por 2-1, afastando definivamente o Benfica da disputa do título nacional. Pior ainda, o Benfica está agora a 4 pontos do Sporting, que ocupa o 2º lugar, ficando também afastado do ingresso automático na Liga dos Campeões Europeus.
A vida não está fácil para Quique Flores que, está provado para quem tinha dúvidas, não consegue pôr os jogadores a jogar como uma equipa.

Este ano acabou, para o ano há mais. Espero que com outro treinador.

sábado, 11 de abril de 2009

A mania das grandezas...

Na passada semana o jornal "Expresso" publicava um interessante artigo com o título "Nove auto-estradas não são necessárias". Partindo dos parâmetros internacionais e do Plano Rodoviário Nacional 2000 sabemos que a construção duma auto-estrada só se justifica, do ponto de vista económico, para uma utilização diária mínima de 10 a 12 mil carros por dia.

Segundo os dados recolhidos junto da Brisa, APCAP e EP, existem em Portugal nove auto-estradas que estão muito longe de atingir a utilização diária mínima recomendada, algumas com apenas cerca de 5 a 6 mil carros por dia. E estão espalhadas por todo o país, no Norte (A7, A11 e A22), no Centro (A14 e A17) e no Sul (A6, A10, A13 e A 15).

Por exemplo, na A17 que liga a Figueira da Foz a Aveiro, circulam diariamente apenas 4.528 carros e na A13, na Margem Sul do Tejo circulam apenas 5.109 carros. É neste cenário que o Governo tem vindo e vai continuar a lançar novas concessões de auto-estradas, quando é evidente que a rede actual já está sobre-dimensionada para as reais necessidades do país.

E este é um assunto que diz respeito a todos os portugueses porque, agora ou no futuro, vamos ser todos nós a pagar os desvarios dos nossos governantes. Dos actuais e do passado, porque nesta matéria das obras públicas há muitas caras dos partidos do poder. E o preço que vamos pagar não é só da construção mas também da sua exploração uma vez que as concessionárias terão de ser compensadas se, como é previsível, não atingirem os níveis de exploração que tornam o investimento rentável. Isto é, lá vão os nossos impostos pagar a diferença e cobrir o risco de exploração que nestas parcerias público-privadas fica sempre do lado do Estado.

Mas há ainda um outro custo que o país paga com estas decisões. É que os recursos desperdiçados, sejam financeiros ou o território consumido, não são investidos onde verdadeiramente fazem falta para o nosso desenvolvimento.

É por isso que somos pobres. Não porque os portugueses estejam condenados à pobreza por alguma razão esotérica, mas porque com a mania das grandezas gastamos mal os recursos que temos e ainda os que não temos e pedimos a crédito. E há sempre uns poucos a ganhar com a pobreza de muitos...

E não tinha de ser assim. Diz o Eurostat que Portugal é dos países da Europa com maior densidade de auto-estradas, considerando a população e a densidade geográfica, sendo a Região de Lisboa e Vale do Tejo a "campeã" ao nível europeu. É o resultado do investimento na política do betão, que não tirou Portugal da cauda da Europa.

Outros países mais ricos do que nós não se dão aos nossos luxos e não desperdiçam recursos desta forma. Por isso são mais ricos e nós mais pobres. Aqui na vizinha Espanha existe a autopista, auto-estrada com elevados níveis de utilização, e a autovia, auto-estrada em zonas com menor utilização e com especificações técnicas inferiores, mas pouco visíveis aos utentes. Duma solução para a outra vai uma economia de 40%. É assim que se poupam recursos dos contribuintes.

Ao artigo publicado pelo "Expresso" o Governo não fez qualquer desmentido. Apenas o Ministro Mário Lino, no programa "Prós e Contras" da passada 2ª feira, afirmou que é natural que uma auto-estrada não atinja logo a utilização pretendida uma vez que são projectadas para 20 ou 30 anos. Mário Lino tem uma tendência irreprimível para pensar que somos todos parvos, mas acabou por reconhecer que as auto-estradas de que se fala não eram necessárias naquelas condições técnicas quando foram construídas. 

Mas o pior é que vai persistir no disparate: agora é a construção duma 3ª auto-estrada Lisboa-Porto quando nas actuais circulam apenas 50 dos 150 mil carros por dia da sua capacidade. E se não bastasse, ainda quer construir uma linha de TGV para ligar Lisboa ao Porto em menos de 2 horas, retirando muita utilização actual das auto-estradas.

Está tudo louco ou somos nós que somos burros?