quarta-feira, 27 de maio de 2009

Quem tem medo de Manuela Moura Guedes?

"A peixeirada entre Manuela Moura Guedes e António Marinho Pinto não foi um momento edificante, é certo. Mas convinha que ela não fosse aproveitada para alimentar o desejo mal escondido de muito boa gente: acabar de vez com o Jornal Nacional de sexta-feira e enviar Moura Guedes de volta para a prateleira da TVI. Os defensores do Portugal compostinho certamente aplaudiriam a decisão, com o argumento de que "aquilo não é jornalismo". Só que o País ficaria a perder. Porque apesar do sensacionalismo e da ocasional falta de rigor do seu Jornal Nacional - que deve ser apontado quando ocorre, se necessário aos gritos, como fez Marinho Pinto -, há ali um desejo de incomodar, de denunciar, de escarafunchar, de meter o nariz nos podres do poder que a comunicação social portuguesa precisa como de pão para a boca.

Manuela Moura Guedes não é a pivot com que eu mais gosto de acompanhar o jantar. No entanto, ainda sei distinguir o estilo do conteúdo. O facto de ela despejar o frasco da demagogia por cima de todos os textos que lançam as peças, sempre com aquele tonzinho de "isto é tudo uma corja", não significa que as notícias do Jornal Nacional, em si, não sejam relevantes. Hoje em dia nós aguardamos pelo telejornal de Moura Guedes como no tempo do cavaquismo aguardávamos pelo Independente. Ora, esse "deixa cá ver de que forma é que eles vão estragar o fim-de-semana ao primeiro-ministro" é de uma enorme importância num país como Portugal, cuja cultura democrática está ligeiramente acima da da Venezuela e o Governo tem um poder absolutamente excessivo sobre as nossas vidas.

Dir-me-ão que aquilo é desequilibrado e injusto. Muitas vezes, sim. Tal como o Independente. E para dirimir os excessos existem tribunais. O próprio Independente foi condenado em vários processos - mas o seu papel foi inestimável. É que o que está em causa não é a nossa identificação com aquele tipo de noticiário. É, isso sim, a defesa da sua existência num país onde o primeiro-ministro diz que um dia feliz é um dia em que o seu nome não sai nos jornais, lapso freudiano bem revelador do seu desejo de silenciar. As intervenções histriónicas de Manuela Moura Guedes estão à vista de todos, e por isso ela está sujeita a ser criticada da mesma forma que critica. O que não está à vista de todos - e por isso é bastante mais perverso - são os jornalistas que calam, que não arriscam, que se retraem com medo das consequências. O Jornal Nacional tem muitos defeitos, mas pelo menos tem uma independência e uma capacidade de incomodar que advém da mais preciosa das liberdades: a das empresas que têm sucesso, dão dinheiro, e não precisam dos favores do Estado. Em Portugal, infelizmente, isso é um bem raro. Convém proteger os casos que existem."

Por João Miguel Tavares, hoje no Diário de Notícias

1 Comment:

Anónimo said...

Quase concordaria com o artigo de João Miguel Tavares se nele (comentário) vislumbrasse algo de útil para o jornalismo e, porque não, para um Jornal Televisivo qualquer.
É conhecido o estilo do Jornal Nacional da TVI. Versão televisiva de jornais tipo "24 Horas" e "Correio da Manhã".
É uma forma - quanto a mim descabida - de fazer televisão pseudo informativa.
Mas, e apesar do estilo, assumido pele Estação, os "pivôts" sabem ocupar o seu lugar. Cada um a seu jeito, mas estão lá. Eles, sem manias.
À sexta feira, a TVI empobrece com Manuela Moura Guedes a liderar o Jornal Nacional.
Torna-se irritante. Não pelo conteúdo mas pela forma que esta senhora impõe ao grande público e a ALGUNS dos seus entrevistados.
Sabe Manuela que tem as costas quentes. É um facto que toda a gente conhece.
Outras têm sido as "vítimas" de MMG e nunca vi, como no "caso Marinho Pinto", o director-geral da estação, José Eduardo Moniz, por acaso e coincidência, saír em defesa das suas damas. A TVI e a MMG.
Nesta estória a TVI, através de MMG, primeiro, e de JEM, depois, ficaram mal na fotografia.
Creio que MMG foi veículo de uma campanha anti bastonário.
Sabe-se que andam a minar o trabalho de Marinho Pinto e percebeu-se, confirmou-se mesmo, essa atitude no pós entrevista.

Eis porque o artigo de João Miguel Tavares é, para mim, pouco mais que um lenitivo para a atitude desmesurada de MMG.