segunda-feira, 25 de maio de 2009

Ainda cheira a Pinho queimado...


GERAÇÃO MAIZENA

Por Sofia Galvão, no "Expresso" de 24/05/09

Estão por aí, em todo o lado, disponíveis para um país que lhes vira as costas. São a 'geração Maizena'. Arredados dos corredores do poder. Pelos doutores Pinhos desta vida.

"O dr. Paulo Rangel tem que comer muita papa Maizena antes de chegar aos calcanhares do dr. Basílio Horta!"...

A frase deu manchetes e primeiras páginas coloridas. Mas, como tudo o resto, logo foi esquecida. E talvez não devesse.

Manuel Pinho pôs-se na posição do ancião, senhor do juízo último sobre o estatuto dos demais. Nesse palanque, estabeleceu uma hierarquia entre Paulo Rangel e Basílio Horta. E alvitrou que, para vencer a distância, Paulo Rangel deveria crescer.

Se fosse vista por um estrangeiro, a cena soaria muito estranha. É claro que não saberia o estrangeiro que uma certa geração se julga dona e senhora da democracia portuguesa.

Embora tenha acedido ao poder há muito pouco tempo, Pinho depressa passou para o lado dos que tratam a democracia como coisa sua. E, como todos os conversos, a sua defesa é veemente e implacável. Rangel é apontado como o usurpador. E, ainda por cima, um usurpador atrevido, já com veleidades de comentar adultos quando, na menoridade dos seus 41 anos (!), mal deixa os cueiros.

Esquecer depressa de mais esta história é, afinal, recusarmo-nos a perceber uma das mais sérias patologias da nossa democracia. O seu fechamento em torno de alguns, poucos, identificados geracionalmente com aqueles que fizeram o 25 de Abril, antes deste, a resistência ao Estado Novo e, depois, o PREC e o 25 de Novembro.

"Paulo Rangel não fez nada disso. Por uma razão simples: era uma criança. Enquanto os outros preparavam ou faziam a revolução, ele aprendia a ler e a contar.

Apesar disso, ou talvez por causa disso, é, seguramente, uma lufada de ar fresco na nossa política recente. É diferente, bem preparado, gosta da reflexão tanto quanto da acção, vem da sociedade civil, tem uma carreira profissional sólida. Não precisa da política, mas gosta dela. Entrega-se-lhe com sentido cívico e com ela firma um compromisso moral.

Aliás, é bom notar que Paulo Rangel não é o único. É apenas um dos poucos que conseguiram romper a blindagem do regime. Mas há mais, muito mais. Gente válida, com sucesso nos seus percursos profissionais. Gente interessada na coisa pública e genuinamente empenhada em causas colectivas.

Estão por aí, em todo o lado, disponíveis para um país que lhes vira as costas. À espera de um sinal, de uma abertura, de uma razão para intervir. Da política, não querem benesses, nem estatuto, nem dinheiro. Tudo isso arranjariam noutro lado. Da política apenas gostariam de ter a oportunidade de participar na construção de um país capaz de futuro e ambição.

São a Geração Maizena. E estão aí. Arredados dos corredores do poder. Pelos doutores Pinhos desta vida."


1 Comment:

Anónimo said...

Se eu me colocasse na pele de Sofia Galvão, compreenderia a sua raiva perante a Maizena.
E, como não sou de meios termos, seria mais acutilante.
Mas em todas as direcções e não só numa, como Sofia Galvão fez.
É a sua opinião, a sua perspectiva.
Respeitável, portanto.

É mais que óbvio que Manuel Pinho foi infeliz.
Tento ligar a Maizena à primeira coisa que lhe veio à cabeça no intuito de chamar inexperiente a Paulo Rangel.
Havendo muitas formas de o fazer, na verdade não percebo a onda gigante criada em torno desta palavra.
Porque parece que nada mais incomodou ninguém a não ser a palavra, a marca Maizena.

Deve ter cuidado Manuel Pinho. Afinal um ministro deve cuidar da sua imagem verbal.
Deve ser cuidadoso Paulo Rangel quando endereça outras "Maizenas" aos seus contrários.

Muita parra e pouca uva.
Digo eu.