Está quieta, Virgínia
Miguel Esteves Cardoso, Ainda ontem, no Público
Antigamente vigorava uma salaz e invejosa boçalidade entre os carroceiros de Portugal. A fórmula fixa para lidar com mulheres incompreensíveis era "Elas são virgens/futebolistas/fufas/bem sucedidas na vida/etc./ porque ninguém lhes pega". Era um queixume transparente: o "ninguém lhes pega" traduzia-se sozinho para "porque não me ligam nenhuma". Ainda bem que isso já acabou.
A maneira saudavelmente entediada como a imprensa tem tratado o Clube de Virgens de Margarida Menezes explica por que é que a fundadora continua a ser a única sócia. Ela diz que as virgens têm vergonha de se assumirem, porque ser virgem "é confundido com não ter vida social". Mas será?
Não é de serem virgens que têm vergonha mas de pertencer a um clube de tais. O estigma não está na virgindade. Está na associação. Ser virgem particular ou pública funciona. Mas ser virgem pública juntamente com outras virgens públicas apetece pouco ao nosso povo. Para quê? Para dar força? Para esperar? Para pedir um subsídio? Para fazer um baile?
É como fazer um clube de pessoas que nunca foram à Argentina e que se juntam para discutir as suas experiências de não ter ido à Argentina; como afectou as suas vidas e como reagir à atitude sobranceira das que já foram. A ideia com que se fica é que a coisa que mais querem na vida é ir à Argentina. Com o clube das virgens é a mesma coisa: é mais um clube de quem espera deixar de ser, logo que apareça o homem ideal. Ou então não.
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