domingo, 20 de abril de 2008

1958: Portugal, quando eu nasci.

Acabo de fazer 50 anos. Quando se deu a revolução do 25 de Abril tinha eu 16 anos e nada sabia de política. Mas sabia que o meu irmão mais velho, o Vítor, estava na idade do serviço militar e de ser metido num barco carregado de tropas e enviado para uma guerra distância, numa das colónias portuguesas em África. 

A seguir seria a minha vez.

Sabia também que não podia falar destes assuntos na rua. O meu vizinho Zeca, estudante universitário era a consciência política lá do bairro onde vivia, na Amadora. Por vezes regressava a casa, vindo da universidade, com a cabeça partida. Um dia explicou-nos, aos mais novos do bairro, que aquelas feridas eram o resultado de confrontos dos estudantes com a polícia de choque e com os "gorilas" do regime.

Na caixa de correio era frequente aparecerem pequenos panfletos com palavras de ordem contra a guerra colonial, que eu lia e guardava religiosamente, às escondidas da minha mãe. Suspeito que eram lá colocados pelo Zeca. Mas a minha mãe acabou por descobrir e, com medo, na própria manhã do 25 de Abril, deitou todos os pequenos panfletos pelo esgoto abaixo.

Foi com o Zeca e com o Vítor, que numa noite de 1969 entrei na sede do CDE, durante a última campanha eleitoral realizada no tempo do fascismo, ali numa rua perto da Igreja da Amadora, na Venteira.

Cá fora o regime controlava a oposição com a presença das famosas carrinhas "nívea" da polícia, cheias de polícias de choque armados, de capacete e escudo, sem faltar a GNR a cavalo e os respeitáveis cães polícias, para reprimir qualquer manifestação de oposição.

Na Assembleia Nacional, os deputados da ala liberal, como Francisco Sá Carneiro, Mota Amaral, Magalhães Mota e Francisco Pinto Balsemão, lutavam pela abertura do regime à democracia.

Mas em 1958, ano do meu nascimento, já as forças democráticas, lideradas pelo General Humberto Delgado, lutavam pela mudança política. É desse época o pequeno video, com a voz do ditador Salazar e a imagem da repressão.

É bom não esquecer, para que não se volte a repetir.


1 Comment:

Paulo Verissimo said...

Muitos parabéns amigo poeta, que contes muitos.....